terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sobre demônios interiores


“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar”. 2 Coríntios 12:7

Vou direto ao ponto, sem enrolação. Cada um de nós sabe onde o calo aperta. Você e eu tentamos, sinceramente, ter uma vida de comunhão com Deus, ler a Bíblia, orar, sermos mais controlados, menos impulsivos, ter relacionamentos melhores em casa, no trabalho, escola/faculdade e tal. Tudo o que um bom cristão deve ter, certo? Mas, de repente, damos aquela velha escorregada fatal, damos voz aquele pecado que teima em não nos abandonar, caímos, choramos. Nossa auto-estima se vai, ficam acusações do inimigo e aquela sensação de “eu consegui fazer essa burrada de novo”. Torna-se mais difícil orar, ler, buscar a face do Senhor, confessar, sentir o amor e o perdão tomar nosso corpo.

Quando isso acontece, inevitável não lembrar dessa passagem onde Paulo fala que, para que ele mesmo não se ensoberbecesse pelo tamanho das revelações que havia tido do Senhor (vale muito a pena ler cuidadosamente todo o capítulo 12), havia sido-lhe dado um “espinho na carne”, um “mensageiro de Satanás”. Há várias teorias sobre isso, mas quase todas elas concordam que realmente tratava-se de alguma aflição física e que, assim como Jó foi atormentado por permissão de Deus, Paulo também pode ter sido afligido por algum anjo maligno com o consentimento do Pai, para que aprendesse a depender mais da Graça e tivesse na sua fraqueza, a fonte de toda a força, no poder do Senhor.

Simon Kistemaker diz em sua análise do capítulo 12: “Ao longo do discurso de Paulo sobre o gloriar-se, ele deu ao Senhor a glória e honra. Seu desejo é permanecer humilde e abster-se de gloriar-se de si mesmo e de suas realizações. Ele sabe que o privilégio de vivenciar visões e revelações celestiais poderia resultar em orgulho. A tentação de se elevar acima de seus companheiros era real”. Daqui podemos tirar algumas boas lições: 1) humildade; Paulo tinha todos os motivos, VERDADEIROS (verso 6), para gloriar-se, mas abriu mão disso para que a sua glória fosse a cruz de Cristo no seu corpo; 2) dependência; Paulo sabia que não tinha nenhuma virtude que pudesse chegar à Deus ou que pudesse utilizar para fazer sua vontade. Muitas vezes queremos tanto depender de nossas próprias habilidades para agradar a Deus ou trabalhar pra Ele, até mesmo com razões sinceras, mas cuja fonte está errada; 3) persistência; interessante observar o que o apóstolo diz no verso 10, “sinto prazer nas fraquezas”, parafraseando, eu sei que as minhas limitações estão nas mãos de Deus, estou sendo confrontado diariamente para depender mais dele, mas eu não vou desistir de jeito nenhum. Vejamos o que Paulo diz em Filipenses 3:3-14: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.

Quando você ou eu formos assediados pela pornografia, pelo sexo fora dos propósitos de Deus, pela mentira, pela desonestidade, pela falsidade, por estes conhecidos demônios interiores, permitamos primeiramente que o Senhor nos confronte. Tenhamos a postura de confessar o pecado e a nossa determinação em segui-Lo, mesmo que sob lágrimas, mas que nunca jamais venhamos a desistir Dele. Nosso Pai, por meio do sangue do Cristo unigênito, nunca desistiu de nós!

Fábio Carvalho / @fabioccarvalho

3 comentários:

  1. "...primeiramente que o Senhor nos confronte."

    Antes desse passo não seria melhor, antes de mais nada, confrontarmos nosso íntimo, para sabermos se o livre arbítrio que nos foi oferecido está sendo bem usado?

    Entendi o contexto, mas considero preemente que todos assumam suas responsabilidades, deixando para o tempo correto o julgamento divino. Se as coisas se mantiverem nesse curso, basta fazer o que quiser e "jogar no colo de Deus", o que é um tanto quanto contraproducente, independente da fé ou religião que professe.

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    1. Nós somente poderemos confrontar a nós mesmos debaixo da perspectiva de Deus, pela direção do Espírito Santo. É o brilho da luz de Deus em nós que revela toda a nossa sujeira, incapacidade e limitação. É Ele quem nos ajuda nesse processo de libertação da própria natureza corrupta e inclinada para o pecado que todos nós temos. A partir do momento que sabemos quem somos do ponto de vista de Deus, poderemos depender Dele para resistir.
      Penso que nosso grande problema seja querer manter as rédeas da vida ao nosso alcance, como se pudéssemos dar a direção certa pra ela, independente de Deus. Quando reconhecemos que só fazemos bobagens com o nosso livre-arbítrio e, livremente, optamos por deixá-lo nas mãos de Deus, como a nossa vida seria mais fácil, menos sofrida, com muito menos desilusões.....
      Um grande abraço pra você, obrigado por seu comentário!

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    2. Dentro dessa ótica, seríamos então todos fatalistas, aceitando cada caso como um desígnio divino, correto? Ou, pior ainda, aceitarmos que Deus é o responsável (quando não o guardião) de nossos atos.

      Seguindo outra linah de raciocínio, a partir do momento que temos o parâmetro de certo e errado, carregamos a obrigação de procurar nos manter-nos sob as diretrizes da correição; tudo bem, seria uma concordância lógica, mas dessa maneira como colocas sinto algo como "vou aqui me debruçar nesta janela e ver a vida passar".

      Creio que o ponto discordante entre nossos raciocínios seja que vejo o Homem como agente, não simplesmente um contemplativo ser que aguarda que Deus aja por si. E o tal livre-arbítrio nada mais seria que a possibilidade de provar a Deus que podemos, por nossa conta, procurarmos por Ele, melhorando-nos nessa busca.

      Um abraço.

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