segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Tempo, mano velho


Vivendo em um mundo absolutamente agitado, globalizado, imediatista, de resultados cobrados e esperados, defrontamo-nos com uma crise sem precedentes na gestão do nosso tempo. Inúmeros itens, profissionais ou domésticos, úteis ou fúteis, seculares ou sagrados, “roubam-nos” minutos preciosos que fazem dissipar o dia. Fica a impressão que, pra tudo o que temos ou gostaríamos de fazer, o dia necessitaria de umas 34 horas. A questão é: como dividir o tempo entre todas as tarefas que necessitam ser realizadas? Onde está o manual de gestão do tempo com sabedoria?

Quando olhamos para as escrituras, observamos que o Espírito Santo também se preocupa com esse tópico das nossas vidas. Antes de qualquer abordagem, a Bíblia nos assegura como somos efêmeros, de passagem rápida por este mundo.

Os meus dias são como a sombra que declina, e eu, como a erva, me vou secando.” Salmo 102:11

Logo, resta-nos utilizar bem a ferramenta do tempo para que a nossa vida tenha uma boa história a ser contada, um legado a ser conhecido por gerações que nos sucederão.

O livro de Eclesiastes dá-nos algumas boas direções sobre o tempo da nossa vida. O capítulo 3, versos de 1-8 falam sobre o “tempo das coisas”, isto é, tudo tem o seu tempo determinado debaixo do sol. Interessante observar como o autor joga as frases com as antíteses (nascer, morrer; espalhar, ajuntar; guerra, paz) e como ele enfatiza o que para muitos de nós seria indubitável perda. Há, efetivamente, tempo de morrer, tempo de arrancar, de derribar, de espalhar, de apartar, de perder, de lançar fora, há tempo de ficar calado. Na esfera da pró-atividade, reatividade ou hiperatividade que nos cerca sem cessar, é difícil admitir que exista o tempo de abrir mão de determinadas coisas ou até ser o agente ativo de sua destruição, para o nosso próprio bem, obedecendo a uma ordem estipulada por Deus.

Outro importante texto sobre o tempo é citado em Efésios 5: 15-17.

"Vede, pois, com diligência como andeis, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus. Portanto, não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor".

Nesta passagem, Paulo nos fala que devemos administrar nosso tempo com cuidado, temor e responsabilidade, principalmente no tocante a ouvir a voz do nosso Senhor no meio das atribuições e tribulações do dia-a-dia, porque certamente nossos dias sobre essa terra são maus e daremos conta de tudo o que fizemos (a saber, do nosso tempo) a Deus, segundo Romanos 14:12.

“Assim, pois, cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.”

O poeta Laurindo Rabelo também nos diz em seus sábios versos que daremos conta do nosso tempo a Deus:

"Deus pede estrita conta de meu tempo,

É forçoso do tempo já dar conta;

Mas, como dar sem tempo tanta conta,

Eu que gastei sem conta tanto tempo?"

Em um curso do SEBRAE sobre empreendedorismo, há uma lição preciosa de como “administrar o tempo é administrar a vida”. Nela, Eduardo Chaves deixa-nos algumas dicas interessantes sobre como gerenciar bem o nosso tempo. São elas, resumidamente:

1) Administrar o tempo não é uma questão de ficar contando os minutos dedicados a cada atividade: é uma questão de saber definir prioridades. NUNCA vamos ter tempo para fazer tudo o que precisamos e desejamos fazer.

2) Dentre as prioridades, algumas são importantes, outras são urgentes. Na lista de todo mundo haverá coisas IMPORTANTES E URGENTES. O problema surge com as que consideramos importantes, mas não urgentes, e com coisas que são urgentes, mas às quais não damos importância.

3) Não somos donos de todo o nosso tempo. Não temos, em relação ao nosso tempo, a autonomia que gostaríamos de ter. Quando aceitamos um emprego, estamos, na realidade, nos comprometendo a ceder a outrem o nosso tempo. Este é um problema real e de solução difícil.

4) Acontece, porém, que geralmente usamos mal o tempo que dedicamos ao trabalho (e, por isso, temos que fazer hora extra ou trazemos trabalho para casa), ou mesmo o tempo que passamos em casa. Usar mal QUER DIZER que muitas vezes usamos o nosso tempo para fazer o que não é nem importante nem urgente, mas apenas algo que sempre fizemos, pela força do hábito.

5) Administrar o tempo é ganhar autonomia sobre a sua vida, não é ficar escravo do relógio. É uma batalha constante, que tem que ser ganha todo dia. Se você quer ter a autonomia de decidir passar mais tempo com a família, ou sem fazer nada, você tem que ganhar esse tempo deixando de fazer outras coisas que são menos importantes.

6) O tempo é distribuído entre as pessoas de forma democrática. Todos os dias cada um de nós recebe exatamente 24 horas. Entretanto, uns conseguem realizar uma grande quantidade de coisas num dia - outros têm o sentimento de que o dia acabou e não fizeram nada. A diferença é que os primeiros percebem que o tempo é um recurso altamente perecível. Um dia perdido hoje não é recuperado depois, é perdido para sempre.

7) Administrar o tempo, em última instância, é planejar estrategicamente a nossa vida. Para isso, precisamos, em primeiro lugar definição de objetivos. O segundo passo é transformar objetivos em metas e decidir como as metas serão alcançadas. O terceiro passo é criar planos táticos: explorar as alternativas específicas disponíveis para se chegar onde queremos chegar. Em quarto lugar, fazer o que tem que ser feito. Durante todo o processo, precisamos estar constantemente avaliando os meios que estamos usando, para verificar se estão nos levando mais perto de onde queremos estar ao final do processo. Se não, troquemos de meios.

8) Quando o nosso tempo termina, acaba a nossa vida. Não há maneira de obter mais. Por isso, tempo é vida. Quem administra o tempo ganha vida, mesmo vivendo o mesmo tempo. Prolongar a duração de nossa vida não é algo sobre o qual tenhamos muito controle. Aumentar a nossa vida ganhando tempo dentro da duração que ela tem é algo, porém, que está ao alcance de todos. Basta um pouco de esforço e determinação.

Apesar de todas possíveis estratégias sobre como otimizar a utilização do nosso tempo, não colocamos em questão aqui uma importante variável: a intensidade. Diante da infalibilidade da morte, temos duas opções: “viver morrendo ou morrer vivendo” (Horace Kallen). Podemos gastar nossos dias sobre essa terra murmurando, arrumando desculpas e justificativas, deixando-nos levar pela armadilha do tempo, sem ter produzido, sem ter marcado, sem sentimento, sem cor. Somente ter passado os dias mecanicamente, com uma sensação final de desperdício, de perda. A grande aflição não é morrer, mas morrer sem ter vivido, sem ter descoberto o porquê, afinal de contas, vivemos. Morrer vivendo em vez de viver morrendo.

Ed René Kivitz cita-nos três maneiras de viver intensamente, sem rodeios. Começa por: desfrutar a vida; isso é celebrar o que Deus fez de belo e de bom. Segundo, escolha viver. Viver é ter a atitude de quem deseja a vida, em toda e qualquer circunstância dela. Em último, não passe vontade. Assuma a responsabilidade por viver assim e com o zelo de quem não vai deixar a vida passar.

Interessante a letra da canção Epitáfio, do Sérgio Britto:

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer


Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr


Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

A promessa de Deus é restaurar esse mundo e nós nele. Viver com qualidade, intensidade e diligência no tempo é honrar a criação mais perfeita do Senhor, louvando-O e trazendo para Ele e para nós mesmos alegria e felicidade que transbordam para todos os relacionamentos.


Fábio Carvalho / @fabioccarvalho

2 comentários:

  1. Muito bom e coerente meu amigo.
    Precisamos mesmo aprender com Salmo 90.12 "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio".
    O dia parece que fica cada vez mais curto, com tanto ativismo com o qual nos envolvemos, e deixamos de lado o principal, nosso tempo no lugar secreto.

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  2. Boa Norton! É isso mesmo, mano. Temos infinitas opções de como desperdiçar nosso tempo, deixando de lado família, Deus e mesmo nossos afazeres mais importantes, dedicando tempo a futilidades. Que o Senhor nos ensine essa preciosa lição de como administrar bem nosso tempo. Abração!

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